f:Hugo De Souza Caramez's Live

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Hugo De Souza Caramez @f:100003189138989
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Há algum conhecimento tão certo que nenhum homem razoável possa dele duvidar? Esta questão, que à primeira vista parece fácil, é na realidade uma das mais difíceis que se podem fazer. Quando tivermos compreendido as dificuldades com que se defronta uma resposta clara e segura, estaremos bem lançados no estudo da filosofia — uma vez que a filosofia é apenas a tentativa de responder a estas questões fundamentais, não descuidadamente e dogmaticamente, como fazemos na vida quotidiana e mesmo nas ciências, mas criticamente, após termos explorado tudo o que torna estas questões embaraçosas e termos compreendido toda a vagueza e confusão que subjazem às nossas ideias vulgares....
Vimos que, se investigarmos um objeto vulgar, do gênero que os sentidos conhecem, o que os sentidos imediatamente nos dizem não é a verdade acerca do objeto em si mesmo, mas apenas a verdade acerca de determinados dados dos sentidos que, tanto quanto podemos ver, dependem das relações entre nós e o objeto. Por consequência, o que vemos e sentimos diretamente é apenas uma “aparência”, que acreditamos ser o sinal de uma “realidade” escondida...
      Estas questões são desconcertantes e é difícil provar que não são verdadeiras mesmo as hipóteses mais estranhas. Assim, a mesa, que até agora só provocou em nós pensamentos triviais, tornou-se num problema com muitas e surpreendentes possibilidades. A única coisa que sabemos a seu respeito é que não é o que parece. Até agora, além deste modesto resultado, temos toda a liberdade para conjeturar. Leibniz diz-nos que é uma comunidade de almas; Berkeley uma ideia na mente de Deus; a ciência, não menos maravilhosa, uma vasta coleção de cargas elétricas dotadas de movimento violento.
   No meio destas possibilidades surpreendentes, a dúvida sugere que talvez não exista nenhuma mesa. Embora a filosofia não possa responder a tantas questões quanto desejaríamos, pode colocar questões que tornam o mundo mais interessante e mostram o estranho e maravilhoso que existe mesmo nas coisas mais vulgares da vida quotidiana.  (Bertrand Russell; Aparencia e Realidade)




Certeza absoluta:
Um argumento é uma certeza absoluta se, e somente se, a hipótese de todas as infinitas premissas do argumento, mesmo aquelas ocultas, se tornasse uma verdade, depois da conclusão provada. Veja este exemplo:

   Sem olhar, Laurêncio tirou 100 bolinhas de um saco de 100. Das bolinhas que Laurêncio tirou 100 eram vermelhas.
   Laurêncio colocou todas as bolinhas de volta no saco.
   Portanto, a próxima bola que Laurêncio puxar para fora da bolsa será vermelha.

A premissa da hipótese tornou-se, realmente, uma conclusão provada. Portanto, esse argumento é uma certeza. Mas não é uma certeza absoluta, pois Laurêncio não observou todas as características das bolinhas para constatar que todas as premissas desconhecidas foram satisfeitas. As características ocultas são:

   - 25 bolinhas estão pintadas com uma tinta com características similares a da pedra Alexandrita que muda de cor conforme o tipo de iluminação. Quando estão sob a luz do Sol a cor delas é vermelha, mas quando é noite sob a luz de lâmpada incandescente elas são de cor verde .

   - Outras 25 bolinhas estão pintadas com uma tinta sensível a temperatura . Quando a temperatura ambiente esta acima de 17° Celsius, elas são de cor vermelha. Quando a temperatura ambiente esta abaixo de 17° Celsius, elas são de cor azul.

   - Outras 25 bolinhas estão pintadas com uma tinta sensivel a umidade relativa do ar. Quando a umidade esta acima de 30%, elas são vermelhas. Mas quando a umidade esta abaixo de 30% elas são de cor amarela.

   - As ultimas 25 bolinhas são pintadas com uma tinta sensivel ao Tempo. Hoje elas são vermelhas, mas a passagem do tempo ira fazer elas mudarem para a cor branca em tres meses.

Quando Laurêncio tirou as 100 bolinhas do saco pela primeira vez ,foi há seis meses , numa temperatura de 25° Celsius, numa umidade relativa do ar de 40%, durante o dia, sob o Sol. Então, Laurêncio colocou todas as bolinhas de volta no saco, e teve a certeza de que a próxima bolinha que tiraria do saco seria vermelha.

Mas ele aguardou até hoje para tirar a próxima bolinha. No entanto, hoje, a temperatura é de 10° Celsius, a umidade relativa do ar de 25%, agora é noite e está sob a luz de uma lâmpada incandescente.

Quando Laurêncio tirar a próxima bolinha de saco, terá uma surpresa, pois sua certeza foi destruída por premissas ocultas que ele desconhecia, e ele não vai tirar uma bolinha vermelha do saco.

Pode-se concluir com o exemplo que qualquer argumento pode ter um numero indeterminado ou até infinito de premissas ocultas, podendo mudar um argumento que era uma certeza, para uma convicção ou até para algo equivocado .

O exemplo acima mostra a razão pela qual, na ciência, não existe certeza absoluta, pois sempre existe algum grau de incerteza em todas as observações e medições. Não existem certezas incontestáveis, elas podem ser corrigidas, aprimoradas e abandonadas ao longo dos tempos. Isso é conseguido através de mais evidências, que tornam a certeza uma verdade.